06 Jun 2018 | HRS

Coluna: Saúde resiste à crise e cresce acima do varejo


Victor França / Colunista. 04 de junho de 2018 às 08:00. Uma mudança que chama atenção na cena comercial paulistana é o aumento do número de farmácias, clínicas e consultórios médicos nos últimos anos. Além da crescente preocupação da população com a saúde, há fatores econômicos e demográficos que ajudam a explicar o fenômeno.

Por sinal, nem mesmo uma das maiores crises da história recente foi capaz de frear a expansão do setor, que viu sua participação na economia aumentar diante da retração do PIB.

Ainda que a demanda por bens e serviços de saúde também tenha sido impactada pela queda da renda e do emprego – e, consequentemente, do número de beneficiários de planos médico-hospitalares, reduzido em 3 milhões nos últimos três anos –, por se tratarem de itens de primeira necessidade, o segmento registrou desempenho acima da média durante a crise.

Tanto em 2009 – quando o setor varejista foi afetado pelas incertezas decorrentes da crise internacional –como no triênio 2014-15-16, as vendas de artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos obtiveram desempenho superior à média dos demais segmentos do varejo.

Enquanto as receitas totais do setor de serviços cresceram apenas 2,4% ao ano, em média, entre 2014 e 2017, as receitas de contraprestações das operadoras de planos de saúde subiram 13,2% ao ano, em média, no mesmo período.

Com isso, a participação das despesas com saúde no PIB saltou de cerca de 8% em 2013 para mais de 9% em 2015, devendo ter alcançado 9,5% em 2016 e 2017 – deste total, cerca de 60% são gastos particulares, contra 40% de gastos públicos.

Além de aspectos conjunturais e comportamentais, uma das principais alavancas do setor é o processo de envelhecimento da população, que aumenta a demanda por bens e serviços de saúde.

De acordo com as projeções populacionais do IBGE, o percentual de idosos (pessoas com mais de 65 anos) na população brasileira, que era de 5,6% em 2000, deve alcançar 10% em 2022 e 20% em 2045.

Comparações internacionais de fato indicam uma relação positiva entre a parcela de idosos na população e os gastos com saúde como proporção do PIB – ou seja, quanto maior a parcela de idosos na população, maior, em média, a relevância dos gastos com saúde na economia –, o que aponta para a continuidade de crescimento da demanda por bens e serviços de saúde no Brasil.

Apesar das perspectivas positivas, a elevada frequência de utilização dos planos médico-hospitalares e as crescentes pressões de custos ameaçam a sustentabilidade do sistema de saúde suplementar.

Para fazer frente ao aumento das despesas assistenciais, os preços dos planos de saúde subiram sistematicamente acima do aumento médio do custo de vida da população medido pelo IPCA, restringindo o acesso da população aos serviços privados de saúde e ameaçando cada vez mais a saúde do sistema.

Por outro lado, as constantes altas nos preços dos planos de saúde convencionais, somadas às dificuldades para realização de consultas e exames no sistema público, tem favorecido o surgimento de serviços privados com preços mais acessíveis.

De qualquer forma, a maior eficiência na utilização dos recursos é um desafio não somente do sistema público, mas também do setor privado.

Apesar da ineficiência do sistema atual, porém, por causa, principalmente, da transição demográfica em curso, as atividades ligadas aos setores de saúde e cuidados devem continuar a apresentar expressivo crescimento nos próximos anos.

Combater desperdícios, por sua vez, será fundamental para garantir a sustentabilidade do sistema e o atendimento de qualidade diante desta demanda cada vez maior por serviços de saúde.

 

Fonte: Diário do Comércio

tags: saúde, IBGE, PIB

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